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SOBRE A AMIZADE
Por, CICERO DE FREITAS AGOSTINHO
Aqui nos limitaremos a citar as posições formidáveis de Aristóteles referentes à amizade. Contrariando toda espécie de individualismo que permeia a vida atual, pois a amizade surge sempre a partir dum encontro, porém nem toda espécie de amizade é verdadeiramente uma amizade. O sinal mais evidente disso é dado pelas explicações de Aristóteles.
Os livros VIII e IX versam sobre a amizade e o amor. Na visam de Aristóteles a amizade surge do encontro de dois entes semelhantes que compartilham sentimentos similares, porém, o filosofo é enfático ao afirmar que a amizade é extremamente necessária a vida por que também é uma forma de excelência moral.
Para Aristóteles a amizade é uma virtude ou está estreitamente unida à virtude, é semelhança e igualdade: "Membros da mesma raça a sentem uns pelos outros, e especialmente os homens; por isso louvamos os amigos de seu semelhante". (OS PENSADORES, 1991: 139).
Para Aristóteles a amizade representa proteção contra os infortúnios da vida, pois a amizade é tanto protetora, como também é a garantia da nossa prosperidade e do nosso crescimento moral.
Sem dúvida sem amigos o homem careceria de um suporte para salvaguardar a sua prosperidade, desta maneira precisamos da ajuda de um amigo na busca pela "eudaimonia", que a semelhança do prisioneiro da caverna de Platão nos mostra o caminho para o conhecimento da verdadeira felicidade.
Um antigo ditado diz que, "nenhum homem é uma ilha" este é um ditado comum e sensaborão, mas que encerra uma grande sabedoria. Este ditado é certeiro, pois não somos auto-suficientes, mas necessitamos da figura do próximo, como exemplo e dos conhecimentos de outros que nos precederam para trilharmos o caminho da vida.
Somos seres dependentes e precisamos dos outros em vários aspectos: para nascer necessitamos de um pai e uma mãe e somos tão indefesos que nos primeiros meses de vida não conseguimos fazer absolutamente nada por si, depois de um tempo precisamos que alguém nos ensine como viver de acordo com as virtudes que nos ajudam a agir bem, tais como honestidade, sinceridade, veracidade dentre outras.
Há coisas que dependem da minha vontade, do meu querer outras não, em resumo a minha vontade é muitas vezes determinada por outras vontades e necessariamente deve ser assim, pois se não fosse eu seria onipotente.
Aristóteles dizia que podemos classificar a amizade em três espécies: a primeira se fundamenta no interesse, os amigos não se amam por si mesmo, mas enquanto proporciona algum bem, ou seja, na utilidade do bem que ambos se propiciam, esse bem útil pode se apresentar de muitas formas: dinheiro, segurança, oportunidades. Este tipo de amizade é apenas um meio para se conseguir algo.
A segunda espécie de amizade é fundamentada no prazer e funciona também segundo o critério da utilidade, neste tipo de amizade o que se se busca primeiramente é o que é agradável, um jovem pode ser amigo de alguém porque ele tem sucesso com as meninas e assim sente-se bem ao lado dele ou um garoto pode ser amigo de uma menina porque também se sente bem ao lado dela.
Embora esses dois tipos de amizade não sejam as mais perfeitas, também se caracteriza como um tipo de relacionamento, mesmo que o fundamento dessas amizades seja o bem que dela se pode obter.
Em contraste com esses dois tipos de amizade há ainda, finalmente uma terceira espécie de amizade e talvez a mais desejada e mais verdadeira porque é a mais elevada, acima da amizade por interesse e da amizade por prazer.
Evidentemente ambas, as amizades por interesse ou por prazer são puramente momentâneas, pois se desfazem rapidamente. Em ralação a amizade como meio para se conseguir algo, Aristóteles relata:
De forma que essas amizades são apenas acidentais, pois a pessoa amada, não é amada por ser homem que é, mas porque proporciona algum bem ou prazer. Eis porque tais amizades se dissolvem facilmente, se as partes não permanecem iguais a si mesmos: com efeito, se uma das partes cessa de ser agradável ou útil, a outra deixa de amá-la. (OS PENSADORES, 1991: 141).
Em contrapartida, só o terceiro tipo de amizade conserva um fim em si mesma porque se baseia na excelência ou virtude, na afeição recíproca, este tipo de amizade é a mais duradoura, pois se diferencia dos dois tipos de amizade anteriores principalmente no que concerne ao útil e agradável. Já amizade verdadeira se afigura ao amor e a bondade o amigo é um fim em si mesmo, queremos o seu bem por ele mesmo, simplesmente porque é meu amigo: "por isso sua amizade dura enquanto são bons – e a bondade é uma coisa muito durável." afirma Aristóteles:
A amizade perfeita é a dos homens que são bons e afins na virtude, pois esses desejam igualmente bem um ao outro enquanto bons, e são bons em si mesmos. Ora, os que desejam bem aos seus amigos por eles mesmos são os mais verdadeiros amigos porque fazem em razão da sua própria natureza e não acidentalmente. Por isso sua amizade dura enquanto são bons – e a bondade é uma coisa muito durável. (OS PENSADORES, 1991:14).
É patente que quando a amizade é verdadeira o amigo, dá-se a si próprio sem medida, a amizade se é autêntica exige entrega, renuncia e sacrifício torna-se um exercício de cuidado é preciso cuidar dos amigos, visitando não somente naqueles momentos de alegria e de festas mais nas dificuldades que se apresentam porque é nesses momentos que sabemos quem são os nossos verdadeiros amigos.
Os bons amigos é uma coisa rara, não que eu duvide do valor da amizade ou que não exista amigos verdadeiros, mas porque "amigos" não se acham na prateleira de um supermercado, mas se conquista numa relação de confiança e respeito, é um sentimento que se constrói com o tempo.
O termo amizade evoca, todavia a meta a ser alcançada, a conquista da felicidade, o homem não nasceu para viver só, no livro da Genesis vemos a narrativa da criação na qual o criador deu ao homem uma mulher por companheira dizendo: "Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que seja adequada". (GEN 2: 18).
O homem não nasceu para viver só, mas em comunidade e a primeira comunidade é a família, contudo mesmo os homens e as mulheres que não buscaram um amor humano nesta terra, mas havendo renunciado a este tipo de amor não para viver só, mas tendo como amigo Deus não conseguiria viver isolado do mundo, pois a vida seria insuportável.