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O QUE É NEO-LIBERALISMO E PÓS- MODERNISMO

O QUE É NEO-LIBERALISMO E PÓS- MODERNISMO

O que é neoliberalismo e pós-modernismo?

 

FONTE: portal brasileiro de filosofia

1. Pergunta

 

Um amigo me perguntou: “Paulo, caso você  fosse solicitado a eleger o principal erro teórico dos intelectuais ou  professores nesses últimos dez ou quinze anos, o que você apontaria?”  Nunca imaginei, para outras épocas, que uma pergunta desse tipo pudesse  ter uma resposta seca. No entanto, para esse período, me veio  imediatamente à cabeça a resposta. O erro de uma boa parte dos  intelectuais desses últimos quinze anos tem sido o de querer validar a  universalidade desta equação: neoliberalismo = conservadorismo =  pós-modernismo.

2. Pós-modernismo

Pós-modernismo é um movimento cultural  que, no campo filosófico, diz respeito ao fim de algo que é tipicamente  moderno: a crença nas grandes metanarrativas. O filósofo francês Jean  François Lyotard o definiu assim em 1979, em A condição pós-moderna.  Nenhuma outra definição foi melhor que esta. De fato, o keynesianismo, o  marxismo, o liberalismo e outras grandes metanarrativas podem ficar  muito bem nos livros das melhores bibliotecas e livrarias, mas não  possuem mais a força de justificação das narrativas que temos sobre o  mundo e nós mesmos que, em um passado não muito distante, já tiveram. O  mesmo se pode dizer da filosofia do sujeito, em suas várias versões  modernas, e mais ainda o humanismo. São grandes guarda chuvas  teórico-morais, e mesmo doutrinários, mas não são mais guarda-chuvas que  podem nos proteger de temporais. Diante de nuvens mais carregadas,  preferimos não sair de casa ou, então, sair de carro. Com esses  guarda-chuvas, que nossos pais e avós usaram, não temos garantia nenhuma  de chegar mais ou menos secos nos lugares de destino que queremos  chegar. Ou seja, se somos assim, menos crédulos em grandes guarda  chuvas, estamos envolvidos em uma condição pós-moderna.

Assim, em princípio, uma pessoa com sentimento pós-moderno não pertence nem à direita e nem à esquerda na política.  Posso muito bem não justificar minhas ações, pensamentos e falas por  meio, por exemplo, do humanismo, mas ainda assim defender pressupostos  normativos criados pelo humanismo. O humanismo do Ocidente fica pasmo ao  ver o Irã insistir no apedrejamento de mulheres por condenação de  adultério. Mas isso não nos faz justificar essa nossa indignação  apelando aos “Direitos Humanos” da ONU como sendo leis naturais ou  lógicas que todos deveriam seguir. Podemos encontrar dezenas de outras  justificativas, sem que nenhuma seja chamada de “fundamentos” ou  “fundamentos imutáveis” que deveriam tornar nossa defesa mais verdadeira  que outras. Posso, por exemplo, chegar a defender o não apedrejamento  até por uma razão do tipo “o Irã está só se complicando  internacionalmente com esse tipo de atitude”. Assim, quero a mudança das  leis do Irã, não sou um conservador, mas não sou alguém que adere a uma  grande metanarrativa para justificar meu desejo. É fácil ver, nesse  caso, que a política de uma pessoa pode ir para um lado, e a opção  filosófica não precisa ir para o mesmo lado.

3. Neoliberalismo

Neoliberalismo é um movimento com várias  cabeças, mas elas não necessariamente podem ser taxadas de  conservadoras. Duas dessas cabeças, inclusive, podem estar voltadas para  coisas muito diferentes. A cabeça econômica não se liga automaticamente  à cabeça política, em alguns lugares chegam até a ficar em oposição, só  deixando junto as nucas.

Para efeito de entendimento pelos  leigos, o neoliberalismo econômico foi exposto de maneira magistral por  um artigo do sociólogo brasileiro Alberto Tosi Rodrigues, “Neoliberalismo: gênese retórica e prática” (1999) [PDF].  Neste, Alberto Tosi Rodrigues diz que a parte doutrinária radical do  neoliberalismo, nos anos setenta e oitenta, inclui três princípios: a  liberdade até o limite de seu abuso; a desigualdade até o limite do  tolerável; a flexibilidade até os limites da insegurança. Esses três  princípios deveriam estar articulados com a idéia de “Estado mínimo” ou,  melhor dizendo, de Estado com o mínimo trabalho de intervenção sobre o  mercado, tomado então, como no liberalismo clássico, como natural, como a  forma correta de fazer os negócios humanos se desenvolverem. Desse  ponto de vista, Alberto não tinha dúvidas que o inimigo do  neoliberalismo era a social-democracia e, sendo assim, o neoliberalismo  estava atrelado a elementos não só liberais, mas conservadores.

O neoliberalismo, assim, nada seria  senão um aliado do estado gerido por um governo autoritário, capaz de  promover a flexibilização das leis trabalhistas, postas pela  social-democracia na Europa e pelo New Deal de Roosevelt na América.

Todavia, o que Alberto Tosi Rodrigues  não analisou, até porque não era este seu escopo, é que a idéia de  “Estado mínimo” tinha uma versão na filosofia política que não  necessariamente deveria ser tomada como conservadora ou de direita. No  campo da filosofia política, o filósofo estadunidense Robert Nozick  publicou o célebre Anarquia, Estado e Utopia (1974), no qual tentou refutar a proposta liberal de outro americano também célebre, John Rawls, autor de Uma teoria da Justiça (1971). Nozick não estava interessado em justificar procedimentos  econômicos de governos autoritários com propostas de liberdade extrema  de mercado. Ele estava preocupado em levar adiante o libertarianismo,  uma versão individualista do liberalismo, amiga da liberdade extrema,  que, ao menos nos Estados Unidos, nunca esteve distante de certa parte  da esquerda americana. Afinal, uma boa parte da esquerda americana  sempre se preocupou antes com a liberdade que com a igualdade. Pois,  sabemos bem, a idéia de que o Estado pode, ao fazer intervenções  econômicas, começar também a fazer intervenções políticas na esfera da  vida privada, e que isso pode gerar um estado não só autoritário, mas  até mesmo totalitário, nunca ficou fora das preocupações mais liberais e  de esquerda dos americanos.

Seria forçar os argumentos tomar Nozick,  em princípio, como um conservador em oposição a Rawls que, então,  ficaria com a idéia de paladino da melhor versão liberal americana.  Ainda que essa idéia para nós seja a mais fácil, ao menos para nós  brasileiros, em uma visão americana essa dicotomia radicalizada, talvez  devesse ser vista como um maniqueísmo, como uma versão em estilo de  vulgata da filosofia política.

4. Final

Essas idéias aqui expostas poderiam ser  ampliadas por meio de uma maior distinção entre Nozick e Rawls (até já  levadas a cabo em outro lugar: Cult), mas, aqui, devo me manter apenas no suficiente para a resposta à pergunta do amigo, como citei no início.

Como se pode ver, essa equação –  neoliberalismo = conservadorismo = pós-modernismo – não tem a validade  universal que ela ganha na maioria das salas de aula da universidade  brasileira. Ela é sustentada nos discursos de intelectuais de uma  esquerda um tanto descuidada ou simplesmente doutrinária.

©2010 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ